segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Os cinco pães da tarde

Ao vestir esta blusa, o tempo volta:
revive dos seus bolsos um retrato
da rua e seu menino, e quando volta
vai revelando um filme sempre em ato.

Eram e continuam ser três horas.
Estão latindo cães à carrocinha
que vem rangendo o mundo, rua afora,
vender o pão sovado à infância minha.

A velha égua baia traz de cor,
dobrado pelo tempo, João padeiro,
cuja voz de tenor e vendedor
oferece os pãezinhos passageiros.

Minha mãe outra vez quer cinco pães,
que, do baú cheiroso cor de trigo,
cruzando pelo alto os magros cães,
na fome dos meus braços vão comigo.

As rodas rangem lentas pelo céu,
e a vida vem e vai como uma fraga.
Pequenas cinco bocas com troféus,
e um esquecendo som que mais se apaga.

Viaja hoje tão triste essa carroça,
no chão da mesma pedra a ferradura
por vez ou outra passa e remoça
essa rua enterrada que tortura.

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