segunda-feira, 16 de julho de 2018

A ESTAÇÃO DE TREM DE BATATAIS


A velha estacão de trem de Batatais

Aberto o ferrolho do antigo portão de embarque. Uma campina de vento, sol e memória. Um casal: pai e filha, talvez. É como esperassem pelo trem. Será que sabem dele, lá descarrilado em alguma curva do passado. Insiste o silvo eterno da campina, o vento. Uma mangueira está ali presente ou já vivia quando o trem tremia suas raízes?. Foram tantas as mãos em seus frutos. Teria sido esfumaçada pelo trem, um dia? Meninos caçam as mangas amarelas. O vento, o apito do trem, longe, longe. Esse silvo já tentara falar de felicidade naquela época; naquela época era só eu e parecia que a vida era horizonte. Agora esse silvo sonhado quer dizer outra coisa que também não consegue. A campina: capim cortado rente crescendo. No meio os pombos marcham graciosos, articulados por um arrulho comum. O vento continua batendo no peito dos pombos e do capim onde os trilhos luzidios cuspiam fogo.  
Com suas vidas pequenas o filme desbotado da estação prossegue. O embarque desembarque dos passageiros continua.  A estação existiu algum dia, ou não existiu como agora? Somos fantasmas? É apenas foto essa estação que visito e que está transformada em museu, biblioteca e sala musical? O pai e a filha, que tais assim parecem na rampa, embarcaram, desembarcaram? Mas estavam mesmo ali?
 Quando todos que viajaram comigo nessa viagem noturna morrerem, em que tipo de lugar estarão o trem o silvo, os trilhos paralelos, as pessoas embarcadas, desembarcadas? Ouço o apito do trem no silêncio da noite. “Que triste é o apito do trem.”, diz-me a voz.
O trem vem pesado, querendo dizer algo que não consegue. Passa, rente, pesado, apitando, bufando fumaça com sua brutalidade ingênua de coisas do passado. Do mesmo jeito se afasta, sempre silvando, bufando, amarrando-me com seus trilhos, raízes de ferro retorcido.
Paralela é a vida ao sonho. Sempre, simultaneamente.