A velha
estacão de trem de Batatais
Aberto o ferrolho do antigo
portão de embarque. Uma campina de vento, sol e memória. Um casal: pai e filha,
talvez. É como esperassem pelo trem. Será que sabem dele, lá descarrilado em
alguma curva do passado. Insiste o silvo eterno da campina, o vento. Uma
mangueira está ali presente ou já vivia quando o trem tremia suas raízes?. Foram
tantas as mãos em seus frutos. Teria sido esfumaçada pelo trem, um dia? Meninos
caçam as mangas amarelas. O vento, o apito do trem, longe, longe. Esse silvo já
tentara falar de felicidade naquela época; naquela época era só eu e parecia
que a vida era horizonte. Agora esse silvo sonhado quer dizer outra coisa que
também não consegue. A campina: capim cortado rente crescendo. No meio os pombos
marcham graciosos, articulados por um arrulho comum. O vento continua batendo
no peito dos pombos e do capim onde os trilhos luzidios cuspiam fogo.
Com suas vidas pequenas o filme
desbotado da estação prossegue. O embarque desembarque dos passageiros continua. A estação existiu algum dia, ou não existiu
como agora? Somos fantasmas? É apenas foto essa estação que visito e que está transformada
em museu, biblioteca e sala musical? O pai e a filha, que tais assim parecem na
rampa, embarcaram, desembarcaram? Mas estavam mesmo ali?
Quando todos que viajaram comigo nessa viagem
noturna morrerem, em que tipo de lugar estarão o trem o silvo, os trilhos paralelos,
as pessoas embarcadas, desembarcadas? Ouço o apito do trem no silêncio da
noite. “Que triste é o apito do trem.”, diz-me a voz.
O trem vem pesado, querendo dizer
algo que não consegue. Passa, rente, pesado, apitando, bufando fumaça com sua
brutalidade ingênua de coisas do passado. Do mesmo jeito se afasta, sempre
silvando, bufando, amarrando-me com seus trilhos, raízes de ferro retorcido.
Paralela é a vida ao sonho.
Sempre, simultaneamente.
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