Estamos todos na U.T.I.
Falta uma página de sol,
uma gota de sangue.
Falta uma ave para o sul
ou para o norte; faltam erros
médicos, acertos divinos.
Falta ser paciente,
diz o médico.
Joguei no descartável:
deus, diabo, família, meu cão, buda.
Fiquei no corredor da morte nu
e de fraldas.
Mais tarde, recuperado, peguei de volta
os descartáveis: Deus,
Diabo, minha Família, meu Cão, Buda.
A todos que me salvaram,
pela lei da selva serei escravo,
para sempre.
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Empurrado na cadeira para o banho,
atravessou meu quarto:
- Bom-dia.
- Bom-dia.
Pergunto:
- Como está?
Responde:
- Ótimo. Graças ao CLEMENTE!
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Euclides, o enfermeiro
Depois dos cuidados comigo,
lanço a pergunta:
Você tem filhos?
A resposta:
QuatroS.
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Querem voltar ao Nordeste.
Ambos, o enfermeiro e a enfermeira.
"Com este curso de enfermagem que fizemos
no Rio de Janeiro, vamos enricar. Está assim, assim,
de família rica precisando de enfermeiro.
Vamos enricar.
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Dão-me um banho o casal
no próprio leito. O último orgulho,
as últimas vergonhas
vão-se ao ralo. O mais necessário banho
de minha vida. O mais difícil.
Estarei puro para o resto
da jornada; melhor, certamente haverá
um último...
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Sentenciado a 72 horas de rede Globo,
hoje sei o que é um corredor da morte.
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À noite, o enfermeiro Dr. Hide. Notou a falta da papeleta com meu nome na parede. Voltou com a papeleta. Notou que eu bebia um remédio. Disse que os remédios só poderiam ser dados se prescritos pelo Hospital; no caso, seriam dados por ele, de plantão. Hesitei um pouco dizendo que o médico autorizara. Respondeu que não pode. Ponderei que então não tomaria, já que era assim. Ficou pensativo, disse-me que se o médico autorizara...Mas insisti que então não o tomaria. Ficou em silêncio, pensou e saindo me disse:
- Acho que é melhor você tomar, se o médico autorizou... Você é quem sabe. À noite, volto, para conferir.
- A que horas você volta?
- Às quatro, de madrugada, tiro a pressão, vejo se você está bem, confirmo se tomou os medicamentos.
Fiquei de plantão, sem dormir, esperando-o...Não dormi um segundo. Às quatro em ponto o Dr Hide volta. Observei-lhe a pontualidade. Disse-me:
- Aqui a gente tem que ser pontual.- Acho que é melhor você tomar, se o médico autorizou... Você é quem sabe. À noite, volto, para conferir.
- A que horas você volta?
- Às quatro, de madrugada, tiro a pressão, vejo se você está bem, confirmo se tomou os medicamentos.
Fiquei de plantão, sem dormir, esperando-o...Não dormi um segundo. Às quatro em ponto o Dr Hide volta. Observei-lhe a pontualidade. Disse-me:
Contou-me debruçado sobre meu corpo, quatro e quinze da madrugada, o caso do biomédico que recebeu dois tiros e estava tetraplégico e que fora ele que o atendera, estava aqui de plantão.
- Merecem a pena de morte, não? - finalizou. Logo depois, saiu. Perguntei:
- Hoje você ainda volta?
- Não, vem outro no turno das sete.
- Obrigado. - disse-lhe.
- De nada.
- Boa recuperação.
- Obrigado.
Saiu. Que hospital quieto...Adormeci!
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