Não quero a eternidade olhar do cais,
o Éden branco, nuvens e clarões,
a voz grave de Deus sobre meus ais,
nem a paz das ovelhas com os leões.
Eu quero a eternidade dos quintais,
a minha braça doce de limão,
rolinhas e luar, pios de pardais,
mas ser eterno eu não quero não.
Com esse saldo rico, reinarei
sobre seixos e areias sem ter planos.
Do tapete do chão serei o rei,
e olharei somente as dunas planas.
De volta, então chegado das estrelas
onde lutei fiel sem ter albergue,
estenderei na mesa armas de ceras
e no chão a bandeira enfim entregue.
Outros mundos e deuses me beberam
o corpo e me esfolaram em altar.
Vou descobrir um canto entre heras,
que nem sequer o tempo vai roubar.
Bem farto, gastarei as horas todas,
bem pródigo de ócio e nenhum ouro.
Vou desvelar o sol em novas podas,
e as folhas cobrirão o meu repouso.