segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A inauguração da maquete

Maquete de cera em alto-relevo
fusão de silêncio e matéria-prima:
mundo atado à dor da madrugada.

Tão-somente olhada por estrelas
a maquete aguarda a alvorada:
Sr. Fiori busca pão sem se mover;
cães alvissareiros são de pedra;
pardais pelo beiral, pios empalhados;
senhoras varrem pó de estrelas, mudas;
verdureiro de alfaces de sereno,
seu pregão congelado está por um átimo.

Eis que a língua de luz toca-os como sopro
e a maquete revive excelente.
O carrosel ativa seu moinho
e lázaro revive sua voz.
Chovem os ruídos da manhã
repicando na veneziana.
São as flores e os pombos das mágicas.
Ontem e hoje a idosa vestida de preto
abraçada à oração segue ao portal.
Os pássaros reapareceram à janela.

A cidade aberta pelo dia
descosturou em ruídos sua tenda.
Vão-se todos ordenados pela hora.
Perdem-se aqueles no voo distante.
Tudo parece viver sem dizer.

Para onde seguirá a vistosa tenda
reinaugurada ao amanhecer?

Nenhum comentário:

Postar um comentário