O teco-teco, domingo,
tange arcos de memória,
traça meus voos falhados,
prospectam suas hélices
música sacra de dor,
dias picados em vão.
Vinho na mesa, no ar sinos,
dobradas hóstias e massas,
o teco-teco prepara
o pão sagrado da missa,
levedado em puro tédio.
levedado em puro tédio.
Eis que volto do exílio,
abro os olhos e constato:
abro os olhos e constato:
"É domingo em Batatais:
a cidade é nula e pedra."
Nas árvores retraída
pipila a minha infância:
seu canto de ave morta.
Homens de binóculos fumam
nas varandas, sem camisa:
brindam pelo fim da guerra.
Batatais embriagada,
dorme o cochilo da morte.
Subo nas asas de lata,
e sobrevoo o velório.
Colho lá embaixo pepitas,
nesso voo passageiro:
os raros dias alados.
Roncam os sons do motor,
na curva azul perigosa,
na curva azul perigosa,
o piloto mira o sol.
Sinto permearem dúvidas:
Sinto permearem dúvidas:
vê-se luto ou nascimento,
é triste ou alegre o voo?
Hélices furam-me fundo,
sangram sem aviso a alma.
Nas pontiagudas estrelas
Nas pontiagudas estrelas
somem os dobres dos sinos.
A seta do voo cansado
macia vem me matar.
O teco-teco no hangar
dentro de mim, beija-flor,
dentro de mim, beija-flor,
baixadas asas, é triste.
Ele há pouco (eu sempre)
expulsos do céu de Deus.
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