sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
O ser da vida
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
"It's was not death, for y stood up"
Era o amor, mas não morri.
Frigiu-me bem o santo óleo;
se nesse amor saí ferido,
herdei também um rico espólio.
Morri e não morri de amor...
Era amor, mas não era a morte.
Internet
O Computador
não mensura a dor,
não me pluga plus:
I erased the brother.
I'm an alive electron,
preso nessa rede.
Than inside net
of my Pentium, rogo,
náufrago entre esferas,
as Robinson Crusoé;
e rogo silente
num bote de bits,
sem um lar ou link.
WORLD
WIDE
WORLD.
Homeless
Vi, num filme, humanos a flambar.
No fogo dos jornais, as mãos a arder;
pobres ratos no tempo, sem um bar,
lambendo a vidraça, e a gemer.
Na pira dessas vidas corta o gelo,
no corpo dessas almas um ferrolho,
não há sobra de pão ou qualquer zelo;
há neve a cair, um largo antolho.
A cidade degusta a ceia santa,
é servido o repasto com uísque,
harpas e violino, corais encantam.
Pobres figuras ocas e de toucas,
renas, rendas de estrelas, luz e almíscar:Nova Iorque no céu, no chão, é louca...
Girassóis de Batatais
À noite os girassóis giram à lua,
abrem doces casulos de sereno
e amam ver a lua só e nua,
a modular no banho a voz amena
Novo bairro
Das mudanças
Já se tornou clássico, ou melhor, best seller, o dilema machadiano de fim de ano: “Mudou o Natal ou mudei eu?” Perde-se o chiste, a espirituosa dubiedade, mas para mim, ambos mudaram. Ressalte-se o óbvio: as coisas externas mudaram demais. Do Natal dos carrinhos de madeira e da boneca de pano, acumulou-se nos nossos dias uma parafernália de bugigangas, uma ourivesaria de minudências, de quinquilharias, um de-tudo-um-pouco, ou um-de-nada-um-pouco. À maneira dos profetas cristãos, pela boca deles, pode-se dizer que a civilização transformou-se num bazar, numa praça de camelôs. Eletrodomésticos enciclopédicos, que só faltam falar, telefones transformando-se em celulares, estes se transformando em computadores e, quiçá, no futuro, quem sabe, em microondas, automóveis em residências e residências em fortalezas, em show-room de segurança. Tudo isso bela e capciosamente anunciado num pregão gigantesco e com a astúcia de fariseus. E nem há um cristo para expulsar esses vendilhões. Nestes colchetes de século e de milênio nada soçobrou. Cristo, neste Natal do século XXI não está na manjedoura, galgou de vez a eternidade no crucifixo.
Mas mudei eu também, e como mudei. Dessas mudanças, uma se percebe; basta uma olhadela distraída no espelho. Uma demão suave de suvinil branca nos cabelos; e não é sabedoria, não - quem me dera caminhasse pela estrada da sabedoria. Malgrado o esforço inútil e contrário, nada de sapiência. Da sapiência e juventude, devíamos ao primeiro vagido abrir mão e singrar os natais sem nenhuma esperança.
Outra mudança: não preciso – e Deus bem o sabe – do ouro do mundo, saciaram-me uns trocados (para o bolso da dignidade). No entanto, já estou pedindo menos – e Deus sabe o quanto sou ambicioso. Neste Natal quero uma camiseta com aquele furinho elaborado pela traça do uso, chinelo caseiro (que não escorrega), um fogão de lenha para espalhar fumaça, uma rede para balançar o cansaço, o meio do rio, um pé de limão galego, uma goteira na madrugada quando os fantasmas se calam – embora tudo isso, eu sei, seja bem imerecido. Que me atirem a primeira pedra – ou fiquem com o resto – diria aos que me dissessem que vendi o mundo por um vintém.
Esperando a professora
Na manhã, os órfãos:
- “Deus criou a Alma”.
Um coro mulato,
de café com leite
e de dentes nata,
decora o milagre:
- “Deus criou a Alma”.
(Namoro uma moça
que a mesa deu flores
de uma cesta órfã,
que a mesa deu frutos
de raízes pobres).
- “Deus criou a Alma”.
Chego, também órfão,
porta-voz de outro
milagre, brinco:
-“E também a ANA”.
Os meninos se entreolham,
acham graça dessa farsa
e dão risadas do Amor...